Ilhoa

  • Sobre
  • Fotografia
    • Paisagem / Natureza
    • Retrato
    • Abstracto / Conceptual
  • Viagens
    • Portugal
    • Noruega
    • Espanha
  • Empreendedorismo
  • Serviços
    • Casa da Margarida – Alojamento Local
    • Packs de Fotografia
  • Contactos

Ensaio Sobre a Cegueira Alheia – Uma Reflexão Sobre a Crise Pandémica, a Burguesia e os Precários

Empreendedorismo

20 Abr

Disclaimer: sou aquela pessoa que depois de ter um dia de desespero, não me deixo ficar nessa energia e no dia seguinte foco-me em soluções, em olhar para frente e lutar. Porque acredito que só assim conseguimos caminhar para a frente, mesmo que às vezes seja necessário ou nos seja imposto pelas circunstâncias dar uns passos atrás. Mas chorar no leite derramado não resolve nada, a não ser aliviar-nos durante um bocado, depois é preciso agir. Foi essa a atitude que tentei transmitir quando a pandemia destruiu os nossos negócios na área do turismo. No entanto, essa atitude também teve os seus efeitos nefastos. Em conversas recentes com algumas pessoas pude constatar isso e no seguimento dessas situações tão constrangedoras para mim, senti necessidade de dar “um grito do ipiranga”.

 

Se faço esta vida de trabalhadora independente parecer fácil, então tenho a dizer-te que é porque escolho que seja assim.

Se faço esta vida de trabalhadora independente, na área do turismo, em crise pandémica, parecer fácil, é porque me recuso a assumir um papel de vítima.

Se faço esta vida de trabalhadora independente do turismo, em crise pandémica, parecer fácil, é porque vou à luta e recuso-me a desistir.

Se faço esta vida de trabalhadora independente do turismo, em crise pandémica, parecer fácil, é porque fui eu que escolhi esta vida e não me arrependi.

Se faço esta vida de trabalhadora independente do turismo, em crise pandémica, parecer fácil, é porque depois de identificar problemas, prefiro focar-me em soluções.

Se faço esta vida de trabalhadora independente do turismo, em crise pandémica, parecer fácil, não quer dizer que vou tolerar a vitimização de quem tem um emprego seguro, a receber mais do que o ordenado mínimo e tem capacidade de sustentar-se.

Eu posso fazer parecer que isto é fácil, mas há limites para a minha tolerância!

Tenho tido o desprazer de contactar com uma nova burguesia que surgiu desta crise pandémica. Aquela que não teve alterações nos seus rendimentos, conseguiu manter o seu nível de vida ou mesmo subir o seu padrão e dar até passos importantes na sua vida (como sair de casa dos pais, comprar uma casa ou comprar um carro), mas que passa a vida a queixar-se das suas escolhas e de ser um pobrezinho porque decidiu ser independente, em mais do que idade para isso.

Ao contrário dessas pessoas, eu não padeço de cegueira e tenho perfeita noção que não é fácil ser independente em Portugal. Sei que mesmo com um trabalho qualificado, é quase chapa ganha, chapa gasta, mas não me lixem!

Há uma franja da sociedade que hibernou em si mesma no último ano. Só isso pode explicar a tamanha falta de noção perante uma realidade tão dura para muitos de nós. Nós que estamos a pagar um imposto oculto por não conseguirmos e podermos exercer a nossa actividade. Nós que tivemos de pedir apoios extraordinários à Segurança Social quando tudo nos fugiu da mão e nos deram 100 euros para pagar as contas de 1 mês.

Aceito que todos nós temos as nossas dores. Aceito que todos nós queiramos sempre mais e melhor. Mas não consigo aceitar que se vitimizem de boca cheia perante quem está verdadeiramente na merda. Tenham vergonha na cara! Tenham humanidade! Tenham noção!

Hoje fiquei a saber que os meus rendimentos entram na estatística do limiar de pobreza. Até fiquei surpreendida, porque recuso esse papel. Não me vejo como pobre. Muito pelo contrário, no meio deste ano de merda sinto-me uma privilegiada. Porque só tive de pedir apoio durante 2 meses. Porque arranjei um pequeno rendimento. Porque trabalhei e organizei-me para ter poupanças. Porque posso sempre vender o meu carro se for necessário (e sim, esta hipótese esteve em cima da mesa).

Porque só sou capaz de me queixar na minha privacidade, com o meu companheiro, porque ninguém é de ferro e porque de facto tem sido um ano de muitas provações. Mas sou incapaz de me queixar para fora da minha privacidade, porque no meio disto tudo reconheço que sou uma privilegiada.

Como seria capaz de me queixar se tenho antigos colegas de hotéis que fizeram despedimentos colectivos, estão com os hotéis fechados e não conseguem converter aquela estrutura para nenhuma outra coisa, ao contrário de mim que consegui converter o alojamento local em arrendamento mensal. Como me queixar quando há trabalhadores independentes do turismo que foram despedidos ou ficaram sem actividade, não têm direito a subsídio de desemprego e estão a viver de ajudas? Como me queixar?!

Mas se calhar devia! Se calhar em vez de escrever artigos “Como Manter Um Pequeno Negócio em Tempos de Pandemia“, devia ter dado mais a cara pelos meus, me vitimizado mais um pouco, chorar por mais apoios. Mas isso não sou eu. Não é a minha maneira de estar na vida.

Tive um convite de um jornal local para uma entrevista para dar a cara pela crise do meu sector. Sei que o convite veio com todo o amor e respeito e até como uma oportunidade de lutar por uma causa. Agradeci e recusei o convite, porque esse papel não me assenta.

Mas perante a cegueira alheia por parte de alguma burguesia, começo a achar que devia ter falado mais nas insónias, nas noites de desespero por não saber se nesse mês vou ter o suficiente para pagar as minhas contas, de ter o azar da máquina de lavar roupa, louça e frigorífico ter avariado tudo no pior ano da minha actividade, de ter um furo no pneu quando preciso do carro para ganhar o meu dinheiro a fazer entregas na Glovo, de ter arrendado a casa durante 6 meses e ter recebido 2.400 euros, para depois os inquilinos terem deixado um prejuízo de 3.000 euros, de ter uma infiltração no termoacumulador, de ter que tratar de 3 cáries. Enfim, aqueles azares e despesas imprevistas que acontecem a toda a gente, mas que a tal burguesia cega acha que só lhes acontece a eles 😂 Não sei se chore ou se rio (é que eu tive mesmo que ouvir alguém a dizer-me isto na cara)…

Se não falo destas coisas, não é porque a minha vida tem sido fácil, mas porque prefiro focar-me naquilo que é possível fazer.

Se me vês a ir uma restaurante caro para comemorar o meu aniversário, foi porque planeei com um ano de antecedência esse evento e todas as semanas poupei nem que fosse 1 euro para poder ter esse prazer na vida.

Porque uma das minhas prioridades na vida é desfrutá-la e faço o que estiver ao meu alcance para isso, nem que tenha de planear uma viagem com anos de antecedência ou a ida a um restaurante com um ano de antecedência. Não vou lá porque posso, mas porque me planeei e organizei para isso.

Na vida são tudo escolhas. Seja naquilo que consumimos, seja na mentalidade que escolhemos ter. E há quem tenha uma mentalidade de merda e coloque os outros ainda mais na merda com os seus comentários insensatos, imaturos e demagogos.

À burguesia cega falta-lhe maturidade, um sentido de independência, muita experiência de vida e um levantar de olhos do seu umbigo, para verem quem têm na frente, bastava isso, nem precisam de ir para muito longe e fazerem voluntariados xpto. Se forem capazes de sair do vosso vortéx de vida privilegiada e falarem com a pessoa do lado serão surpreendidos e talvez até consigam começar a praticar a gratidão.

E não! Não é por eu partilhar a minha vida com outra pessoa que isso significa que sou sustentada por ela! Faço vida a dois, mas isso também significa que somos dois a gastar, água, luz e gás e dois a comer e cada um paga a sua parte!

Portanto peço a essa burguesia cega que enquanto não cresça, que não me apareça à frente.

 

p.s. apesar da clareza do artigo, para quem o ler na totalidade, deixo aqui o disclaimer que nada tenho contra quem não ficou prejudicado com a pandemia. Muito pelo contrário, dou graças por isso. Nem sou da opinião de que essas pessoas devam ter um imposto adicional para ajudar na crise. Quero deixar claro que não é um artigo contra a burguesia (quem não ficou prejudicado com a crise), mas apenas e só uma crítica àquela franja da burguesia que perante o momento trágico da história que estamos a viver, ainda é capaz de se vitimizar perante os precários.

Related Posts

  • Packs de FotografiaPacks de Fotografia
  • Dirários de uma Viagem à Islândia: Dias 5 e 6Dirários de uma Viagem à Islândia: Dias 5 e 6
  • Empreendedora in the Making #11 – As Obras da Casa da Margarida estão na Recta Final!!!Empreendedora in the Making #11 – As Obras da Casa da Margarida estão na Recta Final!!!
  • Exodus Aveiro Fest 2019 – Uma ReflexãoExodus Aveiro Fest 2019 – Uma Reflexão

4 Comments

« És Aquela Pessoa Que Responde Talvez Quando Quer Dizer Não? Então Tenho um Recado para Ti!
Bom Apetite: Refúgio Food House »

Comentários

  1. Catarina diz

    Abril 20, 2021 em 2:01 pm

    Boa Beatriz,

    Admiro a tua atitude empoderamento. De solucionar em vez de reclamar. Às vezes faz bem sentirmo-nos frustrados e tristes, mas jamais deixar-se ficar nesse estado. A escolha é sempre nossa e eu compreendo a tua

    Responder
    • Beatriz diz

      Abril 21, 2021 em 9:08 am

      Muito obrigada Catarina, por teres tirado um minutinho para deixares este comentário 🙂 Também sabe bem esse carinho e compreensão, por isso obrigada pelo apoio. Beijinho

      Responder
  2. Micaela diz

    Abril 20, 2021 em 10:07 pm

    Muito bom.
    Fica bem.

    Responder
    • Beatriz diz

      Abril 21, 2021 em 9:06 am

      Estou bem e vou ficar ainda melhor quando conseguir terminar as obras de reparação, do prejuízo que os inquilinos me deixaram, e assim poder voltar a abrir o alojamento. Já está quase 😀 Muito obrigada pelo carinho. Beijinho Micaela.

      Responder

Deixe uma resposta Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Olá! Eu sou a Beatriz e vivo na ilha de São Miguel – Açores. Sou fotógrafa, viajante e proprietária de um alojamento local. Se não estou a viajar, estou a planear a próxima, sempre acompanhada pela minha câmara fotográfica. Quando estou por casa, é habitual encontrares-me a fotografar as paisagens de São Miguel ou a proporcionar as melhores experiências de estilo de vida de um ilhéu a quem me visita.

  • Bloglovin
  • Facebook
  • Instagram
  • Pinterest
  • YouTube

Pelo Instagram

Subscreva a Newsletter e Ganhe Vouchers de Desconto para Sessões Fotográficas ou para Alojamento em São Miguel


À procura de um fotógrafo?
Eu posso ajudar 🙂

design by WE BLOG YOU