Seria impossível escrever um artigo generalista sobre este assunto que cobrisse todas as situações e todos os trabalhadores independentes, porque varia muito de área para área etc. Mas vou dar o meu melhor para criar uma “proposta” para cada situação, espero que seja útil.
O novo coronavírus que desenvolve a doença Covid-19 está a gerar uma crise mundial, pois trata-se de uma pandemia. E o que é que acontece em momentos de crise económica? O desemprego aumenta, o poder de compra diminui, aumenta o risco de pobreza, entre outras coisas. Ou seja, muitas pessoas estão já a passar, ou vão passar, por momentos de grandes dificuldades.
Com este artigo pretendo focar-me nos trabalhadores independentes que possuem pequenos negócios, ou seja, que não são financeiramente dependentes de uma entidade terceira. Estes trabalhadores independentes não têm direito a subsídio de desemprego se de um momento para o outro houver uma redução da sua actividade económica. Logo, estes pequenos empreendedores constituem uma franja muito vulnerável dos trabalhadores portugueses e claro que não ficaram imunes aos efeitos do corona (como aliás, quase toda a gente).
Muitos destes trabalhadores independentes viram a sua facturação reduzir 50% ou mais, ou mesmo a 100%, como é o meu caso. Se estes trabalhadores independentes estão abrangidos pelo regime de Segurança Social e fizeram descontos nos 3 meses anteriores a Março (ou seja, Dezembro 2019, Janeiro e Fevereiro 2020) puderam pedir um apoio excepcional à Segurança Social por redução da actividade económica.
No entanto, as áreas de muitos destes trabalhadores independentes são sazonais, ou seja, estes trabalhadores ganham a maioria do seu rendimento no Verão por exemplo, como é o caso do sector do turismo e dos casamentos. E para estes trabalhadores, os últimos meses do ano e os primeiros meses do ano são precisamente os meses de menor facturação e são exactamente esses meses que estão a ser contabilizados para apurar o valor do apoio da Segurança Social. Resultado, estes trabalhadores independentes estão a receber muito pouco de apoio, não chegando para cobrir as despesas mais básicas.
Mas este não vai ser um artigo de lamúrias! Esta foi apenas uma pequena introdução do contexto e situação do tema. Portanto, agora vamos focarmo-nos em direcções para o futuro.
A tua área de negócio continua a fazer sentido em tempos de pandemia?
Acho que esta é a primeira pergunta a que temos de responder. O produto / serviço que prestas continua a ser necessário em tempos de pandemia? Continua a ser procurado? Continua a responder a uma necessidade do teu público-alvo neste novo contexto?
O teu produto / serviço pode continuar a fazer sentido em tempos de pandemia, mas por exemplo a sua distribuição pode estar desadequada. Por exemplo os restaurantes continuam a ter um produto / serviço que é procurado por bastantes consumidores (apesar de poder ter tido um decréscimo na procura, ela ainda existe. Ainda há quem queira comer comida de restaurante). Contudo, durante muitas semanas não foi possível usufruir destes espaços, mas os restaurantes puderam adaptar o seu canal de distribuição com serviços take-away e entrega ao domicílio. Será que tu poderás fazer algo semelhante? Por exemplo, será que podes adaptar o teu produto / serviço ao meio digital e entregares através desta via?
A tua área de negócio deixou de fazer sentido em tempos de pandemia?
Se por outro lado a tua área de negócio deixou de fazer sentido em tempos de pandemia, então não vale a pena bater no ceguinho. A boa notícia é que no futuro, quando houver um tratamento para o covid e as coisas normalizarem, muito provavelmente o teu negócio passará novamente a fazer sentido. A má notícia é que algumas áreas terão uma recuperação mais rápida e outras áreas terão uma recupeção mais lenta. Por exemplo os cabeleireiros e gabinetes de estética terão uma recuperação mais rápida que o sector do turismo.
Então, o que fazer entretanto?
Começa já a trabalhar para a retoma da tua actividade pós-corona. Como? Se o teu negócio não tem uma presença online, começa por aí e cria uma estratégia de comunicação e marketing de conteúdo. A tua marca tem de aparecer, tem de continuar a comunicar com o seu público-alvo e a criar relações com os seus potenciais clientes. Tens de criar uma estratégia para a tua marca estar na memória do seu público, porque quando for possível retomar a actividade irão lembrar-se de ti.
Aqui posso dar-te o meu exemplo. O meu alojamento local está parado e muita da minha estratégia de conteúdo para este negócio passa por dar dicas de São Miguel. É através deste conteúdo que muitos dos meus clientes chegam até ao meu alojamento local. Mas dar dicas de São Miguel numa altura em que as pessoas estão confinadas em casa e não podem viajar deixou de fazer sentido. Então tive que pensar que conteúdo poderia fazer sentido agora e criei uma nova rubrica que se chama “Viagem pela Gastronomia dos Açores”, com o mote “Se não pode vir até aos Açores, eu levo os Açores até sua Casa!”. Neste novo conteúdo dou a conhecer receitas de pratos e doces típicos dos Açores, que o meu público pode recriar em casa e matar saudades ou conhecer pela primeira vez os Açores através da gastronomia. Assim, mantenho a comunicação com o meu público-alvo, crio relações e fico na sua memória. Quando as viagens retomarem e estiverem a planear uma viagem a São Miguel, pode ser que se lembrem de mim 🙂
Mas não basta ficar por aqui. É preciso ir mais longe e começar também a preparar uma campanha pós-corona, que seja uma oferta irresistível. Também já estou a trabalhar nisso, mas para já ainda ficará no segredo dos deuses para não estragar o seu lançamento 😛
E agora contra-argumentas. Ok, isso é tudo muito giro, mas não traz dinheiro! Como sobrevivo agora?
Pessoas, eu gostava muito de ajudar, mas também não sou fada-madrinha. Não tenho nenhuma solução mágica para isto. O que posso acrescentar é que se não tinhas uma reserva de emergência (que eu já tanto defendi por aqui) deverás construí-la, porque se há coisa que o corona nos ensina, é sobre a sua importância. Para mim, isso foi condição essencial e obrigatória para eu iniciar o meu negócio. Se não tivesse esta almofada financeira, não iria para a frente.
Para além disso, se em paralelo for necessário virares-te para outro trabalho que tenha agora muita procura, bora lá! Sei que nesta altura não é fácil arranjar novos trabalhos, tens de soltar a criatividade que há em ti, há sempre alguma coisa que se pode fazer. Eu apesar de ter a minha reserva de emergência, não gosto de ficar parada à espera que a situação mude enquanto gasto a minha almofada financeira. Vou imediatamente procurar outras formas de rendimento. Por exemplo, como renda extra sou estafeta da Glovo. Preconceitos não pagam contas! Tens de pensar e fazer diferente!
Por fim, e esta é a parte mais difícil para mim, aceita a ajuda dos outros. Se tens uma rede de apoio próxima, marido / companheiro, família nuclear ou alargada que te oferece ajuda, engole o orgulho e aceita. Não rejeites o seu amor e agradece por teres esta rede de apoio.
Não. Não vai ficar tudo bem. Há pessoas que morreram, há pessoas que vão passar fome. Mas vamos ser parte activa da mudança e lutar, por muito que custe 💪
Até à próxima!
Muito bom!
Adorei o artigo, como sempre!
Beijinhos