Passados agora cerca de 6 meses desde que estou inteiramente dedicada à minha actividade, consigo identificar alguns erros cometidos e reflectir sobre as dificuldades que tive que enfrentar ao abrir uma actividade própria. Vamos então por partes!
1) Será que comecei a divulgar o negócio cedo demais?
Por ter um blog senti a necessidade de escrever sobre o meu processo de transição de vida e de partilhar isso com os meus leitores.
Apesar de ter tido o cuidado de publicar as crónicas da minha jornada rumo ao trabalho independente com bastante delay, ou seja, só tornava público os acontecimentos ou intenções meses depois de terem ocorrido, para não correr o risco de defraudar ninguém. A verdade é que isso teve um efeito perverso.
Apesar dessa partilha não ter acontecido por razões estratégicas, mas por uma vontade genuína de escrever sobre o assunto e de inspirar pessoas, a verdade é que a dada altura tive que pensar sobre os efeitos que isso teria no meu negócio. E achei que criar essa relação com quem me seguia não seria prejudicial para o negócio, mas pelo contrário. Numa época em que só se fala de storytelling, achei então que ao dar a oportunidade das pessoas acompanharem o processo desde o início, se envolveriam mais com a história do negócio e a minha marca sairia fortalecida.
Apesar de querer acreditar que na maioria das situações foi isso que aconteceu, por outro lado também veio prejudicar-me em certa medida. Isso porque montar um negócio próprio sozinhos tem muito que se lhe diga e no meu caso, apesar de estar a trabalhar a todo o gás para isso, a verdade é que demorou quase 1 ano para abrir o alojamento local ao público. Ora, isso causou frustração em algumas pessoas que me iam seguindo e tive que ouvir várias vezes “Mas afinal quando é que tens isso pronto?” “Já tens o alojamento aberto? Tenho pessoas que vêm cá e lembrei-me de ti” “Isso nunca mais termina!” “Mais vais conseguir ter isso pronto este ano ou só para o próximo?”
Há várias causas para o tempo que demorou: fiz obras em casa que duraram cerca de 4 meses, fornecedores que me falharam nos prazos, a vistoria para obter a licença da actividade depende da disponibilidade da Câmara Municipal, etc.
Apesar de ter relatado todos esses acontecimentos tim-tim por tim-tim, a verdade é que algumas pessoas se cansaram de não ver as coisas prontas durante tanto tempo. Por isso, ficará sempre a dúvida se comecei a divulgar o negócio cedo demais e se deveria ter começado a falar nisso numa fase mais final do projecto.
2) Inexperiência com Fornecedores e Prestadores de Serviços
Fui muito ingénua ao lidar com fornecedores e prestadores de serviços. Gosto de pensar que todas as pessoas são sérias e honestas como eu, principalmente quando se tratam de relações comerciais, onde o valor máximo deveria ser o profissionalismo.
Mas o mundo real não é assim. Confiei em quem não devia, falharam-me e prejudicaram o rumo de preparação do meu negócio.
Felizmente nem todas as experiências foram más, mas foram de facto mais as más do que as boas.
3) Não ser levada a sério
Falando agora de algumas dificuldades que enfrentei neste processo, uma delas foi não ser levada a sério pela maioria dos fornecedores e prestadores de serviços.
E não tenho dúvidas sobre as razões para isso ter acontecido. Passo a explicar, apesar de na altura já ter 28 anos, sou jovem, mas também já não sou assim tão miúda, a verdade é que tenho a aparência de uma pita de 16 anos. Tenho 1,43 m de altura e uma disposição genética para ter uma pele e uma cara muito fresca loooool Logo, quando me dirigia a entidades a solicitar orçamentos e para ver produtos, o pessoal olhava para mim e achava que estava ali sem reais intenções de avançar com a compra, não me levavam a sério, nem me tratavam como cliente. O que mais me irritava é que eu era mesmo uma cliente real, com necessidades imediatas pelos produtos e serviços e até tinha dinheiro na mão para adquiri-los, ou seja, era a porra de uma grande cliente e é uma treta que não tenham identificado isso.
Tive pessoas a tratarem-me por tu. Atenção que não me considero uma pessoa snob, mas acho que nesse tipo de situação não é de todo o adequado, até porque não conheço as pessoas de lado nenhum e não estamos propriamente num ambiente social para esse tipo de intimidades.
Tive pessoas que ouviram o meu pedido de orçamento e não ligaram nenhuma dizendo “ok querida, deixa-me o teu email e assim que conseguir mando-te o orçamento”. Sabem quando recebi o orçamento? NUNCA!
Enfim, ouve um bocadinho de tudo e os olhares de desdém em direcção à minha pessoa disseram muito mais do que mil palavras.
4) Ser uma Mulher a ter Iniciativa
Se o factor de ser jovem e de parecer ainda mais jovem não abonou a meu favor, o facto de ser mulher também não. Apesar desse factor não ter tido tanto impacto como o anterior, pois só senti essa dificuldade numa situação.
Foi com uns pintores que tinham sido recomendados pelo meu companheiro. Logo, uma vez que a pessoa de contacto tinha sido o meu namorado e nós vivemos juntos, quando os pintores vieram cá a casa para se inteirarem do trabalho, o meu namorado fez questão de estar presente. Mas o que aconteceu foi um pouco surreal.
Apesar de estar claro que o serviço seria prestado à minha pessoa, que era um projecto meu, o pintor nunca foi capaz de me olhar nos olhos e falar directamente comigo. Ele apenas falava com o meu namorado (Nuno), apesar de ser eu a estar a explicar o que pretendia, sempre que o pintor tinha uma dúvida perguntava ao Nuno, o Nuno olhava para mim (porque isso não tinha nada a ver com ele) e eu respondia. No mínimo insólito.
Isso tudo mesmo depois do Pintor logo de início ter ficado impressionado com a casa e ter perguntado se era do Nuno, ao que eu respondi que não, que a casa era minha e do meu irmão. Apesar de várias vezes ter ficado explícito que o serviço ia ser prestado a mim e não ao Nuno, o Pintor perguntou insistentemente se era o meu namorado que ia pagar!? Ao que eu tive que responder insistentemente que não, que seria EU a pagar.
Enfim, ficam então aqui algumas considerações sobre os erros que cometi e as dificuldades que tive que enfrentar para empreender. Se passaste por um processo semelhante, gostaria muito de saber se algumas destas coisas também aconteceram contigo e que outras acrescentarias aqui 🙂
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